Pudor e compostura em falta na Belíndia

Parece que uma característica deste longo fim de século XX, que teima em não acabar (1), é a perda do pudor e da compostura. Pessoas bem estabelecidas na vida, experientes, com mais de 70 anos bem vividos, abrem a boca e confessam ou defendem cada absurdo!
Eu diria que beira à “bacharia”, mas este texto é para ser sério, não me permite este tipo de trocadilho infame.

Acho que a fama por ter sido o inventor do termo “Belíndia” subiu-lhe à cabeça e ele continua viciado na mesma onda.

Estou falando de Edmar Bacha, um dos autores do Plano Real.
Em julho de 2014, em entrevista ao Estadão comemorativa dos 20 anos do Plano Real, ele declarou: “O sucesso (do Plano Real) tem que ser relativizado. Obviamente, só o fato de não ter inflação já é um grande avanço. Estamos falando aqui que a gente conseguiu controlar a inflação, mas não conseguimos ter uma estratégia econômica que permitisse colocar o País no primeiro mundo”.

“Humilde”, este senhor acha que um grupo de economistas tecnocratas e sua brilhante estratégia econômica seriam capazes de colocar o país no primeiro mundo em 8 anos de governo; míope, ele não enxergou, até o hoje, o caos e os desequilíbrios causados nas vidas das pessoas naqueles anos de gestão econômica “brilhante”.

Depois desta longa introdução, entro, finalmente, no assunto. Em entrevista no jornal Valor Econômico de hoje, 22/05/2015, Bacha soltou as seguintes pérolas:

Valor: O que o senhor achou da votação em que o PSDB votou contra o fator previdenciário, criado pelo próprio governo FHC?

Bacha: … Não se pode pedir ao PSDB que seja governista. …. Por um lado reclama(m) que o PSDB não é oposição suficientemente forte, por outro, diz(em): “Vocês estão votando contra coisas que acreditam”.

Valor: A luta política está acima da coerência?

Bacha: …num certo sentido, você não chega lá se não tiver votos … Acho até que é pedir demais para uma oposição que ela se comporte tecnicamente de forma tão coerente.

Valor: Mas não é uma guinada do PSDB, que sempre se disse uma oposição responsável, em contraste com o comportamento do PT antes de ser governo?

Bacha: O partido tem que ambicionar chegar ao poder. E para se chegar ao poder tem que diferenciar o produto. ….

Valor: Mas em relação ao fim do fator previdenciário não há um consenso de que prejudica as contas públicas?

Bacha: Por que não propuseram junto idade mínima, por exemplo? Agora disseram que vão vetar e propor alguma solução. Agora que perderam? Eles que cuidassem da sua horta. ….
O Aécio disse, durante a campanha, que ia estudar o assunto, mas ia apresentar uma proposta alternativa – se presidente fosse. Agora, querer assumir o papel de governo, quando ele não é governo?

Valor: O Aécio se comprometeu em rever o fator previdenciário.

Bacha: (As pérolas que vêm a seguir merecem destaque): Com uma mudança no sistema previdenciário. Obviamente ele tinha isso na cabeça – mas não ia falar no processo eleitoral – que era ter uma idade mínima.

O compromisso do Aécio de mexer no fator previdenciário teve como um dos objetivos atrair o apoio do Paulinho da Força Sindical (do Partido Solidariedade). A segunda parte do plano do Aécio, que seria incluir uma idade mínima para compensar a eliminação do fator previdenciário, eles esconderam de todos os eleitores durante a campanha, como confessa despudoradamente Edmar Bacha e seria, provavelmente, uma espécie de “rasteira” eleitoral no Paulinho da Força e em todos os sindicalistas deste sindicato cooptado pela FIESP.

(1) Estamos no Século XXI, mas purgando os pecados do final do século passado quando a razão neoliberal entranhou-se nas almas e ganhou corações e mentes.

Um comentário em “Pudor e compostura em falta na Belíndia

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