As grandes fortunas, a CPMF e a batalha da comunicação, por Miguel do Rosário

Quando eu falo que o maior problema do governo é a comunicação, imagino as pessoas torcendo o nariz. Uma logo pensa em rebater: não, não é! É a política! Outro se indigna: claro que não, o principal problema é a corrupção!

O próprio governo parece não saber o que é comunicação, o que significa que também esqueceu como fazer política.

Comunicação não pode ser confundida com a sua prima ordinária, a propaganda, nem com sua tia esnobe, as relações públicas.

Pensada no sentido mais pleno, mais profundo, a comunicação é alma que dá vida às línguas, à política, à arte.

A comunicação tem o poder de transformar o mundo.

Hoje os maiores lucros do planeta estão em mãos de empresas de comunicação, tanto as ligadas às novas tecnologias (Google, Facebook, Apple), quanto àquelas do setor de telefonia e celular (Nokia, Motorolla, etc).

O setor de entretenimento, uma das áreas mais nobres da comunicação, já se tornou a atividade econômica mais importante dos Estados Unidos, e o seu segundo maior gerador de divisas.

No setor militar da potência número 1 do planeta, a área de comunicação é uma das mais estratégicas e que mais recebe novos investimentos.

A CIA foi engolida pela NSA, a agência secreta americana especializada em espionar o mundo inteiro usando tecnologias de comunicação.

O grande capital mantém a sua hegemonia ideológica no mundo através dos meios de comunicação, que formam hoje uma vasta rede internacional.

Lembro-me quando o editor da Época, Diego Escosteguy, publicou uma mentira sobre Lula na revista, e foi rapidamente desmentido pelos fatos, ele procurou se apegar ao fato de sua mentira ter sido reproduzida ad infinitum por dezenas, quiçá centenas, de órgãos de imprensa mundo afora.

São todos submetidos ao mesmo padrão editorial, determinado pela matriz.

Se a ordem, por exemplo, é disseminar clichês mentirosos sobre a Venezuela e o Irã, é incrível como todos se engajam com disciplina.

A mentira da Época repercutiu lá fora, e com isso, voltou para dentro do país com força para se tornar uma verdade. Mais tarde, tornou-se efetivamente uma verdade: o ministério público do Distrito Federal abriu um inquérito sobre Lula.

Vamos trabalhar um caso concreto, aqui no Brasil.

O Cafezinho apoia o imposto sobre grandes fortunas e a volta da CPMF, dois tributos que estão na pauta do debate público.

A CPMF foi derrubada essencialmente pela Globo, que publicou inúmeros editoriais e matérias manipuladoras e mentirosas, várias das quais foram inclusive lidas por senadores na tribuna. Desde sua derrubada até hoje, a ausência do imposto retirou centenas de bilhões de reais da saúde pública.

Seguramente, a aprovação do governo e a popularidade da presidenta estariam bem melhores hoje se a CPMF houvesse sido mantida.

Muitos casos de corrupção, além disso, teriam sido combatidos na raiz, visto que a CPMF permitia um monitoramento minucioso, por parte das autoridades, da circulação de dinheiro entre os agentes econômicos.

Ficamos ainda mais contentes em saber a CPMF será destinada, em boa parte, diretamente aos municípios.

Isso daria a autonomia financeira que as cidades mais precisam – paralelamente, claro, ao aumento na transparência no uso desses recursos, para que não sejam escoados no ralo dos gastos inúteis, ou desviado para o bolso de políticos e empresários.

Felicitamos, portanto, a presidente e o governo por decidir abraçar essas duas ideias, a CPMF e o imposto sobre grandes fortunas.

Ambas são medidas racionalmente impecáveis, tanto do ponto-de-vista fiscal e como do social.

Concordamos, no entanto, com o presidente do senado, Renan Calheiros, que afirmou que a iniciativa sobre a CPMF pode ser um tiro no pé.

Eu diria que ambas podem ser.

Não no pé de Renan, claro. Ao contrário, a discussão pela volta da CPMF serviu de bola para Renan cortar.

Ele tem a chance de aparecer na capa do site do Senado, e em toda a parte, como um heroi da economia.

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