Dar nome aos bois? Nomeá-los um a um? Bem que merecem. É melhor não fazê-lo. Eles são poderosos. Têm o poder de decidir sobre o nosso presente, desconsiderar nossos votos e esquecer que perderam eleições democráticas e de distorcer a mentira transformando-a em verdade inquestionável.
A este dom eles chamam de justiça ou neutralidade.
Nós sabemos seus nomes. Todos sabem.
Seja o Ministro do Supremo Tribunal da Injustiça, o “impoluto” membro do Superior Tribunal Aético Eleitoral Seletivo, arrogantes e tiranos cavalheiros que julgam que seus votos valem mais do que os votos dos demais, a Bancada BBBB – do Boi, da Bíblia, da Bala, dos Bancos, os execráveis presidentes de casas legislativas ou os pálidos vermes donos da comunicação (neutra-mentira) oligopolizada que sugam o sangue da pátria, não é necessário nomeá-los.
Todos sabemos quem são.
E sabemos que o poema do Neruda lhes serve como carapuça, adaptada com perfeição, com chifres e tudo.
Paulo Martins
Serão nomeados – Pablo Neruda
Enquanto escrevo, minha mão esquerda me
reprova.
Me diz: por que os nomeias, que são, que valem?
Por que não os deixaste em seu anônimo lodo
de inverno, nesse lodo em que urinam os cavalos?
E minha mão direita lhe responde: “Nasci
para bater nas portas, para brandir os golpes,
para acender as últimas retiradas sombras
nas quais se alimenta a aranha venenosa”.
Serão nomeados. Não me entregaste, Pátria,
o doce privilégio de nomear-te
apenas em teus alhelíes e tua espuma,
não me deste palavras, Pátria, para chamar-te apenas
com nomes de ouro, de pólen, de
fragrância,
para esparzir semeando as gotas de orvalho
que caem de tua negra cabeleira imperiosa:
me deste com o leite e a carne as sílabas
que nomearão também os pálidos vermes que viajam no teu ventre,
os que acossam o teu sangue, saqueando-te a vida