O tempo do inimigo, quando veio,
parecia que fosse de cuidados.
Era esconder a rosa, companheiro,
E proteger as relvas da ternura
contra o tacão feroz e disfarçado.
Não descuidassem nunca as forças claras
do instante exato de arrojar a luz.
Não tardará, eu sei, mas descuidaram
não só do tempo, mas até do amor,
cuja canção mais bela foi ferida
pelo ferrão que era encolhido e curvo,
mas foi ficando ousado e altivo
que o seu próprio poder foi dilatando
cada vez mais em tempo, cinza e fel.
O tempo do inimigo se acrescenta
de tão turvo poder, que está marcando
a hora da rebeldia em nosso amor.
Mas só o povo é quem pode a rebeldia
quando no peito não lhe cabe a dor
que irrompe – e então são águas represadas
que desprendem, no seu volume espesso,
os ímpetos crescidos, despencados
no seu destino imenso de ser livre,
que se expande em fragor de tempestades
e gera brados balizando o rumo
por onde avança o povo rebelado.
Republicou isso em diálogos essenciais.
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