Mais um post certeiro de Ulysses Ferraz em seu excelente blog.
No entanto, a história registra povo na rua derrubando governos ilegítimos. Um caso que me impressionou, pois foi contra o Regime do Xá – Reza Palehvi e contra aos donos do mundo – EUA, foi a revolução no Irã, em 1978/1979, apesar da mídia controlada pelo governo de então.
Quando o povo, em tsunami, quer, não há mídia, nem exército, nem congressista corrupto que o segure. Mas precisa querer.
Li na mídia coronelista um comentário do usurpador interino, não sei se verdadeiro, que dizia: “enquanto eles se manifestam, nós passamos”. Não sei se é uma referência à situação da minoria anti-impeachment no Congresso, ou às manifestações de rua, ou ambos.
Nestes últimos dias não me saía da cabeça os traidores franceses na segunda grande guerra e os que aderiram a Hitler na Alemanha.
Vi um documentário na TV Brasil sobre Darci Ribeiro e sobre os golpes na América Latina e, de imediato, vi a correlação com o que ocorre hoje no Brasil. Mesmo cenário, mesma manipulação midiática, mesma participação (incentivo) norte-americano, com uma simples diferença: saem os tanques e o bombardeio aéreo e entram os parlamentares cúmplices de falcatruas e os inocentes (e os culpados) úteis.
Não tenho nada contra a alegria demonstrada pelos manifestantes pró-democracia contra o golpe. Mas concordo que é pouco.
Acho que não somos, TODOS, colaboracionistas. Só os omissos, os alienados, os que flertam com o facismo, os raivosos, os inocentes (e os culpados) úteis. É muita gente, concordo. Mas não podemos deixar o desânimo tomar conta.
A quantidade de pressão que os golpistas podem colocar na panela tem limite. Um dia a panela sai de controle e fura o teto. Precisamos continuar atentos e fortes …
Paulo Martins
SEREMOS TODOS COLABORACIONISTAS?
Não é possível que o governo ilegítimo e golpista de Michel Temer já tenha completado um mês. E passado incólume. Há muita mobilização nas ruas, mas todas dispersas e esparsas. Muitas delas mais se assemelham a uma festividade, uma confraternização inofensiva, do que um movimento avassalador de resistência e (re)existência diante de um golpe de Estado. Não é possível que isso é o máximo que podemos fazer para defender o país de um golpe que deixou o mundo inteiro perplexo, exceto nós brasileiros. Por muito menos, lutamos muito mais. Até por ninharias. Um jogo de futebol, uma desavença no trânsito, um troco errado, um serviço mal feito, um produto defeituoso. Somos mais incisivos e corajosos diante de um atendente de SAC de uma empresa qualquer do que para defender a democracia do nosso país. O governo Temer, que no limite é o governo de Eduardo Cunha, juntamente com seu ministério entreguista e sociocida de ladrões; a quadrilha de políticos que lidera o golpe no Congresso Nacional; os respeitáveis seguidores de Pilatos do STF; essa imprensa cínica e hipócrita que eleva Temer à qualidade de “guerreiro” e “unificador” do país; os empresários rentistas mais preocupados com suas aplicações financeiras e com o câmbio favorável para suas viagens de turismo predatório; a classe média alienada e estúpida que se deixa usar e abusar apenas para se sentir parte de uma classe “distinta” de seres supostamente superiores e merecedores dos privilégios históricos que, de tão arraigados, já estão naturalizados; todo esse conjunto de elementos intraduzíveis em uma única expressão, esbofeteando diariamente a nossa cara, pisando e cuspindo nela, gritando aos quatro ventos toda a ilegitimidade que transborda de suas entranhas, mediante uso de violência material e simbólica, com escárnio e tranquilidade cotidianas, inumanas, que só a total ausência do direito, da ética, da empatia e da solidariedade humana pode assegurar, enquanto assistimos a tudo isso quase que passivamente. O fato é que o golpe, além de já ter sido dado, está passando. E, se continuarmos letárgicos e festivos, passará. Escrevo diariamente e sinto-me impotente. Inofensivo. Triste. Deprimido. Envergonhado. Um dia a mais deste governo Temer e vou começar a achar que somos todos coniventes com esse ataque explícito à nossa democracia. Um dia a mais e já estaremos todos anestesiados e ocupados com nossa épica vida cotidiana. Um dia a mais e estarei convencido de que sou um colaboracionista do golpe.