Os novos proprietários – Pablo Neruda

Os novos proprietários (3)

Estancou-se assim o tempo na cisterna.

O homem dominado nas vazias

encruzilhadas, pedra do castelo, tinta do tribunal,

povoou de bocas

a cerrada cidade americana.

Quando já era a paz e a concórdia,

hospital e vice-rei, quando Arellano,

Rojas, Tapia, Castillo, Núnez, Pérez,

Rosales, López, Jorquera, Bermúdez,

os últimos soldados de Castela,

envelheceram atrás da Audiência,

tombaram mortos debaixo do cartapácio

foram com os seus piolhos para a tumba

onde fiaram sonho

das adegas imperiais, quando

era a ratazana o único perigo

das terras encarniçadas,

assomou-se o biscainho com um saco,

o Errázuriz com suas alpargatas,

o Fernández Larraín a vender velas,

o Aldunate da baeta,

o Eyzaguirre, rei das meias.

Entraram todos como povo faminto,

fugindo das pancadas, do policia.

Logo, de camiseta em camiseta,

expulsaram o conquistador

e estabeleceram a conquista

do armazém de importados.

Aí adquiriram o orgulho

comprado no mercado negro.

Apropriaram-se das fazendas, chicotes, escravos,

catecismos, camisarias,

cepos, cortiços, bordéis,

e a tudo isto denominaram

santa cultura ocidental.

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