Do Facebook de Cláudio Guedes
Respondo à pergunta do título: desde o momento que ministros do Supremo passaram a fazer manifestações político-partidárias fora e dentro dos autos do processo, vice-presidente passou a se reunir na calada da noite com partidos que tramavam o golpe e que a mídia os incensou e quase todo mundo passou a achar tudo normal.
Paulo Martins
Revelações
Interessante e reveladora a polêmica entre Rogério Cezar Cerqueira Leite e Sérgio Fernando Moro, na Folha de S. Paulo de ontem e hoje (12/10).
Ele, um dos maiores cientistas brasileiros vivos – engenheiro do ITA, da turma de 1958 e PhD em Física pela Universidade de Paris, em 1962 – homem de inteligência e cultura reconhecidas, e membro do Conselho Editorial do jornal desde 1978.
Do outro lado, o juiz de direito de primeira instância de Curitiba, condutor da operação Lava Jato, uma celebridade nacional que, diferentemente do que prega a liturgia do sistema judicial (um juiz só deve falar nos autos), participa de eventos públicos e da mídia impressa com frequência de um pop-star, expondo suas idéias e defendendo sua conduta profissional.
Usando seu arsenal de conhecimentos, Rogério Cezar vai buscar na história um paralelo ao juiz de Curitiba, achando-o no dominicano Girolamo Savonarola, representante tardio do puritanismo medieval.
Diz o cientista, “o jovem Savonarola agiganta-se contra a corrupção da aristocracia e da igreja. Para ele ter existido era absolutamente necessário o campo fértil da corrupção que permeou o início do Renascimento.”
E complementa: “Todavia existe uma diferença essencial, apesar das muitas conformidades, entre o fanático dominicano e o juiz do Paraná – não há indícios de parcialidade nos registros históricos da exuberante vida de Savonarola, como aliás aponta o jovem Maquiavel, o mais fecundo pensador do Renascimento italiano.”
Para Rogério Cezar, no caso do juiz do Paraná, “a corrupção é quase que apenas um pretexto.” E faz um alerta ao jovem magistrado, predizendo que o mesmo será abandonado pelos que hoje o incensam por combater o PT, quando ele não lhes mais for útil: “Em Roma, Savonarola foi queimado [por ordem do papa Alexandre VI, o Bórgia, quando não mais precisou dos serviços do dominicano]. Cuidado Moro, o destino dos moralistas fanáticos é a fogueira. Só vai vosmecê sobreviver enquanto Lula e o PT estiverem vivos e atuantes.”
A resposta de sua excelência, o juiz:
“Lamentável que um respeitado jornal como a Folha conceda espaço para a publicação de artigo como o “Desvendando Moro”, e mais ainda surpreendente que o autor do artigo seja membro do Conselho Editorial da publicação. Sem qualquer base empírica, o autor desfila estereótipos e rancor contra os trabalhos judiciais na assim denominada Operação Lava Jato, realizando equiparações inapropriadas com fanático religioso e chegando a sugerir atos de violência contra o ora magistrado. A essa altura, salvo por cegueira ideológica, parece claro que o objeto dos processos em curso consiste em crimes de corrupção e não de opinião. Embora críticas a qualquer autoridade pública sejam bem-vindas e ainda que seja importante manter um ambiente pluralista, a publicação de opiniões panfletárias-partidárias e que veiculam somente preconceito e rancor, sem qualquer base factual, deveriam ser evitadas, ainda mais por jornais com a tradição e a história da Folha.”
Ora, ora, onde o renomado cientista sugeriu “atos de violência contra o ora magistrado”? O juiz de Curitiba não sabe o que é uma metáfora? Ainda mais um metáfora histórica? Não sabe?
Acho que na verdade, ao sugerir incitação de violência, onde ela evidentemente não existe, o juiz apenas revela uma faceta manipuladora, perigosa, como o objetivo de acuar o seu inteligente crítico.
E desde quando cabe a um juiz criticar um jornal por conceder “espaço para a publicação de um artigo”? Desde quando? O juiz se julga tão poderoso que acha que pode assumir o papel de “censor” da imprensa? Da mesma imprensa que o trata como celebridade apenas porque foi nela criticado?
E, para finalizar, se o juiz acha que a opinião de Rogério Cezar é panfletária-partidarizada, como devemos nós, brasileiros, cidadãos e contribuintes, julgar as ações do mesmo à frente da Lava Jato?
É ele um juiz austero, discreto, imparcial e que respeita a lei e a Constituição da República em todos os seus atos?
É? Há controvérsias. Por Claudio Guedes