Trabalhei no IPEA por 10 anos, até recentemente. Em função do meu trabalho tive acesso a muitas informações sensíveis. Logo, por motivos éticos, evito tratar neste blog dos assuntos internos deste importante órgão da administração pública federal.
Publico no blog, quando avalio que interessam, estudos do IPEA, sempre de alta qualidade técnica.
Só me manifestei nos assuntos do IPEA poucas vezes quando percebi que a mídia, quase sempre equivocadamente crítica quando se tratava do IPEA nos governos Lula e Dilma, publicava informações distorcidas ou erradas.
A mídia, quando se tratava do IPEA, escolhia sempre um lado. Técnicos atuando no IPEA, hoje trabalhando em outros órgãos, sempre consultados pela Gobo e convidados para participar de seus programas de TV, chegaram ao cúmulo de publicar livros técnicos com indicação de Miriam Leitão em uma contracapa e de Merval Pereira na outra. Nenhum dos dois entendiam o suficiente do assunto tratado para recomendar o livro. Deve ter sido sugestão da editora, para facilitar a venda. No mínimo, promiscuidade. Na imprensa, nem um pio.
Assim se manifestou a mídia de conveniência no passado, sobre determinados trabalhos do IPEA que iam contra a linha editorial do jornal ou da revista:
“O problema desse trabalho é que ele parece mais guiado por ideologia do que pela ciência. E é muito perigoso quando um instituto de pesquisa permite ser mais guiado por interesses políticos e ideológicos do que pela pura pesquisa” — Marcos Fernandes.
“Índice de confiabilidade do Ipea cai 74%, diz Ipea” — Revista Veja, em coletânea de frases sobre o caso.
Palavras premonitórias. Explicam com exatidão o que ocorre com o IPEA hoje, sob interdição de um interventor amigo de Temer. Onde foi parar a liberdade para se fazer a “pura pesquisa”. Onde está a mídia tão ciosa da liberdade de pesquisa no passado que não faz qualquer crítica ao que ocorre hoje? Com o IPEA amordaçado, perderam o interesse pe
Esta semana este interventor indicado por Temer para presidir, enquadrar e alinhar os trabalhos do IPEA com os desejos do governo Temer escrachou o trabalho de um grupo de técnicos do órgão, apontados erros e falhas metodológicas e apresentou outras conclusões em linha com o que o governo Temer encomendou. Tudo escancarado. Humilhantemente escancarado.
Forçou a insituição a mudar sua opinião original sobre os prejuízos da PEC 241 para a área de saúde.
Todos sabem que o presidente interventor não tem os requisitos técnicos e acadêmicos para presidir uma instituição de excelência do porte do IPEA. Ganhou este cargo como prêmio de consolação por ter perdido a presidência do BNDES, que almejava. Se não está dando conta do seu trabalho no IPEA, Imagine esta sumidade como presidente do BNDES.
Trabalhei em diversas empresas privadas de grande porte e em órgãos públicos durante minha vida profissional. Nunca vi um comportamento tão degradante e humilhante a um grupo de profissionais quanto este praticado pelo despreparado interventor.
Os acontecimentos não me surpreendem, no entanto. Quem foi capaz de trair e golpear como Temer, não iria admitir a liberdade de pesquisa em uma instituição pública. Tanto que nomeou um interventor capataz para realizar o serviço. Um profissional de prestígio, com reconhecimento no mundo acadêmico, certamente se recusaria a fazer papel tão abjeto.