Compartilho texto de Cláudio Guedes sobre o economista Anthony Atkinson, falecido em 01/01/2017. Após o texto tem um vídeo, em inglês, com a palestra de lançamento do livro Inequality mencionado no texto.
Paulo Martins
“Uma lágrima …
Sir Tony Atkinson, que morreu aos 72 anos no primeiro dia de 2017, foi um brilhante economista. Talvez o que melhor e mais consistentemente trabalhou a questão da desigualdade social nas sociedades contemporâneas. Dirigiu seus estudos a partir de sua cátedra no Nuffield College, da Universidade de Oxford, e como professor emérito da London School of Economics. Era também um ativista ligado ao Partido Trabalhista do Reino Unido.
Três aspectos do trabalho do economista britânico merecem destaque. Primeiro, a sua preocupação sobre a compreensão das causas e consequências da pobreza, tratando o assunto em utama perspectiva ampla e sem preconceitos.
Uma segunda vertente de sua contribuição acadêmica foi mais teórica. Como editor do Journal of Public Economics durante 25 anos, e muitas vezes em parceria com Joseph Stiglitz, economista vencedor do Prêmio Nobel, ele desafiou a ortodoxia da economia de livre mercado, fornecendo respostas para como reformar economias onde os mercados não estão funcionando bem, o “bem ” na visão de quem pensa o conjunto da sociedade, não apenas parte dela, é claro.
O terceiro ponto central no seu trabalho, dominante nos últimos anos, foi a abordagem sobre a desigualdade – onde Atkinson brilhou, demonstrando, de acordo com Thomas Piketty, para quem ele era um mentor, que a economia é “acima de tudo uma ciência social e moral”. Ele elaborou uma longa série de medidas de desigualdade de riqueza no Reino Unido a partir de registros de sucessões, preocupado com o fato de que medidas tradicionais de desigualdade, como o coeficiente de GINI, não conseguirem distinguir diferenças entre os que estão no topo da renda, as distribuições de riqueza e os que estão no nível mais baixo, criando uma medida específica, o índice Atkinson, para resolver o problema. O índice permite que os pesquisadores destaquem sociedades com desigualdade geral semelhante, mas que possuem níveis mais altos de pobreza.
Em seu mais recente livro, “Inequality: what can be done?”, Atkinson produziu uma lista de 15 propostas, incluindo uma maior tributação dos ricos, maior redistribuição da renda por extratos sociais definidos, manutenção de empregos pelo setor público (nas áreas de saúde, educação e segurança pública) e mais poder aos sindicatos.
Na contra-mão da obsessão pelo mercados livres e pela busca implacável e insensível pela “eficiência”, era um intelectual que continuava, com grandeza, a pensar e tentar mitigar o grande desafio da humanidade: como melhorar a vida nas sociedades, como tornar o mundo um lugar mais igual e fraterno.”