Eu ouvi um discurso dos anos 30 e 40, com nítido ranço da Alemanha hitlerista, que apenas adota um velho disfarce ao substituir a supremacia da raça pura alemã pela supremacia da nação norte-americana e por apelos ao nacionalismo e engrandecimento dos EUA em detrimento do resto do mundo.
Trump inverteu completamente a realidade e atribuiu a decadência da classe média norte-americana à exploração dos outros países. Falou do sucateamento da indústria norte-americana atribuindo a culpa ao Estado, à tributação e à falta de patriotismo do empresário norte-americano. Jogou Adam Smith e David Ricardo na lata do lixo. Talvez seja um lugar merecido no século XXI. Esqueceu-se, convenientemente, do desmantelamento da economia norte-americana causado pelo neoliberalismo e pela desregulação, especialmente do mercado financeiro, iniciados na era Ronald Reagan.
Os editores do Jornal Nacional, “inocentes”, coitados, escolheram ver um discurso forte. Alguns chamariam a expressão “forte”, que nada define, de mero eufemismo de conveniência; outros, de mistificação corriqueira, norma já tradicional na Organização.
Comentarista da GNT, empresa da mesma Organização, definiu o discurso de Trump como Nacional Populista. Outro eufemismo.Um pouco mais próximo da realidade mas, mesmo assim, eufemismo. Todos sabemos qual a correta classificação do lamentável discurso de Donald Trump.
Se Trump realmente gosta de um palavreado xenófobo, misógino e racista, que a Globo escolheu chamar de “forte”, nós também temos o direito de usar linguajar apropriado, expresso em “trumpês”, para classificar seu discurso de posse. Nesse novo idioma, que causa calafrios na China e na Alemanha, a correta definição do discurso de Trump, é “fascismo”. Reciclado, revisado, semi-novo, transgênico, gourmetizado, mas o mesmo fascismo de sempre.
Hitler reencarnou-se em Trump. Só faltou escolher “Ordem e Progresso” como o lema deste novo tempo. A expressão já havia sido exportada para um determinado país sul-americano, igualmente carente de ideias e inspiração.
Preparem-se. Os novos tempos são de cuidados e de mediocridade. Stephen Bannon reina. God save us.
Leia, a seguir, texto complementar de Luiz Carlos Oliveira e Silva:
TRUMP E HITLER
1. O discurso de “inauguração” do mandato de Donald Trump, em diversos pontos, lembrou o de Hitler antes da guerra.
2. A ideia de que o povo retomou o poder, na figura do presidente, contra os políticos e as instituições, é um deles.
3. Há outros… Por exemplo:
4. Unir a nação contra os inimigos internos e externos é uma das ideias-força de Hitler que Trump está tomando como sua.
5. Os “judeus” de Trump são os assim chamados “imigrantes ilegais” e os “comunistas” da vez são os “radicais islâmicos terroristas”.
6. Outra ideia-força de Hitler que Trump estás abraçando denodadamente é a de atribuir as dificuldades econômicas à traição antinacional dos políticos.
7. O “Tratado de Versalhes” de Trump é a globalização.
8. Onde se ouvia “Alemanha para os alemães”, ouça-se agora “Buy American, hire American”.
9. Onde se ouvia “Deutschland über alles”, ouça-se agora “America First”.
10. O discurso de “inauguração” foi a reiteração do que ele disse na campanha. Diferentemente do que muitos esperavam.
11. Trump não amarelou. Hitler não amarelava… E deu no que deu…