Acompanhei consternado, por dever de ofício, a sessão da Câmara dos Deputados que decidiu mandar para o arquivo, sem investigação, a denúncia do Procurador Geral da República por eventuais crimes praticados por Michel Temer no exercício da presidência (“Crime da Mala”).
Seria impossível esperar outro resultado.
Se Temer fosse afastado definitivamente da presidência da República ele perderia o foro privilegiado e poderia compartilhar com Eduardo Cunha o endereço na cadeia.
Ele, Temer, manipulou os cordões da política nacional nos últimos 30 anos.
Como presidente da Câmara dos Deputados e presidente do PMDB ele tem, no bolso, a vida política e a sorte penal de grande número de políticos do Congresso Nacional.
Estes políticos, mesmo sem promessa de cargos e benefícios, votariam em Temer, por fundado receio de uma delação premiada bombástica. Os demais políticos, que ainda não estavam no balaio, precisaram ser “cooptados”. As notícias e evidências indicam que o foram.
Observei que uns poucos políticos, com destaque para o louco oportunista que colocou uma tatuagem de apoio a Temer em seu ombro direito, defenderam a honra de Temer. A esmagadora maioria dos que votaram a favor de Temer não tiveram a coragem de defendê-lo. Falaram em nome de uma ficção chamada estabilidade econômica e crescimento que a continuidade de Temer, segundo alegaram, garantiria. Outros votaram a favor de Temer prometendo que ele não escapará da justiça quando, em 01/01/2009, deixar a presidência e tornar-se um cidadão comum.
Tal argumento talvez tenha sido o mais ridículo entre todas as imbecilidades, disfarces e falcatruas que assistimos nessa malfadada reunião de deputados.
Se acham que Temer é um escroque, como implicitamente admitiram, como deixá-lo na presidência com a chave do cofre do Tesouro Nacional e a vida de 206 milhões nas suas mãos? Alegam, estes políticos, que seus votos a favor de Temer não representam uma garantia de impunidade. Seria, tão-somente, uma espécie de adiamento da investigação e da responsabilização penal do investigado: Michel Temer.
Ora, ora, ora … Se os nobres deputados. não têm coragem nem confiança suficientes para defender a honra de Temer e, muito ao contrário, prometem que haverá punição futura, por que nós, cidadãos, teríamos que aturar no comando dos destinos do país um usurpador que praticou traição política e pratica estelionato eleitoral? Para permitir que ele, o usurpador denunciado, continue a entregar os pacotes encomendados pelos financiadores das campanhas do PMDB, do PSDB e do DEM, que destruirão este belo país?
Tristes Trópicos.
02/08/2017