Vou repetir: doze milhões de famintos. Doze milhões de famintos. Doze milhões de famintos … PQP, doze milhões de famintos!
Quase quatorze milhões de desempregados. Quase quatorze milhões de desempregados. PQP, quatorze milhões de desempregados!
Vinte e três mihões de “sevirantes”. Vinte e três milhões de “sevirantes”. A máfia da mídia os chama pomposamente de “empregados por conta própria”. A mão direita assina o seu contrato de emprego como empregadora e a mão esquerda assina este mesmo contrato como empregado. O ‘sevirante” trabalha o mês todo sem direito ao pagamento das despesas de transporte e alimentação e, ao final do mês, o empregador, sua mão direita, enfia a mão no bolso direito e tira o dinheiro para pagamento do mês de trabalho. Sua mão esquerda recebe, conta, e enfia o dinheiro em seu bolso esquerdo. “Empregado por conta própria”. Premiado. Está empregado e não tem patrão.
São bóias-frias. Burros-sem-rabo. Camelôs. “Moradores” de rua. Fogueteiros. Aviões. Gerentes. Assaltantes. Flanelinhas. Guardadores de lugar na fila do INSS. Guardadores de celular na fila do Consulado norte-americano. Vendedores de balas nos sinais. Limpadores de vidro de carro. Malabaristas de sinal fechado. Mendigos de chão de calçada. Pedintes de porta de bancos.
“Sevirantes”.
A tomada do poder mediante um reles artifício teve este exato objetivo: adotar um plano econômico que não teria a menor possibilidade de ser aprovado nas urnas. O estado mínimo e a miséria máxima, o outro lado desta moeda, implantados na marra, goela abaixo. Pós-golpe.
O investimento público quase zerado. Não cobre nem os custos de depreciação, ou seja, estão destruindo bens de capital. Bens de capital são aqueles necessários à produção de novos bens. Se não se repõe, mediante novos investimentos o que se perdeu, como pensar em futuro?
Desempregados eternos. “Sevirantes” para sempre
E, apesar de tudo, de toda a recessão planejada, a relação dívida/PIB dispara. Resultado mais do que óbvio da adoção da política de recessão. Nós avisamos. Os economistas não envolvidos no golpe avisaram. “Austericídio” à la grega.
Um país que encolhe, empobrece, será, mais adiante, ruim para todos. Até para quem abandonou o barco e virou “sevirante” em Nova York, Miami ou Portugal.
O rancho da goiabada.
Paulo Martins
QUEM SE COMOVE COM A PRISÃO DE LULA?
E COM OS DADOS DO DESEMPREGO?
Por Gilberto Maringoni
Quantas pessoas estão revoltadas com a prisão de Lula? Quantas estão desoladas? Quantas outras estão espantadas?
Não sei. Talvez a minha bolha virtual e outras semelhantes, mais alguns conhecidos e amigos pelo Brasil? A esquerda, num sentido amplo? Quanto dá isso? Dez mil pessoas? Cem mil? Um milhão? Dois?
Não sei e não penso que seja isso o mais importante. O importante é verificar que, três semanas depois da prisão, os que alegam terem vencido o ex-presidente agora – às vésperas do 1o. de Maio – apresentam seus feitos. Suas realizações. Seus troféus!
Eles estão aí, repetidos pelas redes:
A. O número de desempregados em todo o Brasil, no primeiro trimestre do ano, alcança 13,7 milhões de pessoas. Dados do IBGE.
B. A construção civil demitiu 280 mil trabalhadores em doze meses;.
C. O investimento público desabou. Todo o setor público, união, estados e municípios investiram 1,17% do PIB, o menor patamar em meio século. Investimento público, como se sabe, é a construção do futuro.
D. Um país em acelerado processo de degringolada social e desesperança.
A prisão de Lula em si é uma injustiça, uma fraude jurídica e um atentado á democracia. Mas não é – desculpem – o centro dos dramas do país.
O centro dos dramas do país é a catástrofe social que se avizinha.
A prisão de Lula tem potencial politicamente explosivo se as pessoas perceberem que ela está conectada direta e objetivamente ao programa e aos resultados do golpe. Quando escrevo pessoas, devo completar: dezenas de milhões de pessoas.
É um tapa na cara: prenderam o Lula dizendo que iam consertar o país e o resultado está aí! Os que o prenderam são os mesmos que arrebentam com a renda e destroem o emprego. E comprometem nosso futuro.
Parece fácil o vínculo, mas não é. Ainda é abstrato para um enorme contingente de brasileiros e brasileiras.
Mas é tão eloquente que, mais cedo ou mais tarde, os dois processos aparentemente desconectados se juntarão na cabeça de todos.
Será assim ainda neste ano em que a CLT completa 75 anos e a carta de 88 apaga trinta velinhas!
Uma bomba atômica social está em processo de montagem. Ela precisa ser direcionada contra os de cima.