A gente retorna ao velho lugar
se abraça e fala da vida que foi por ai
e conta os amigos nas pontas dos dedos
pra ver quantos vivem e quem já morreu
amanhã ou depois
Ê ê ê ô
Quem me dirá onde está
Aquele moço fulano de tal
filho, marido, irmão, namorado que não voltou mais
insiste um anúncio nas folhas dos nossos jornais
achados perdidos morridos saudades demais
mas eu pergunto e a resposta é que ninguém sabe
ninguém nunca viu
só sei que não sei quão sumido ele foi
sei é que ele sumiu
e quem souber algo acerca do seu paradeiro, beco das liberdades estreita e esquecida
uma pequena marginal dessa imensa avenida Brasil.
Memória de um tempo onde lutar por seu direito
É um defeito que mata
São tantas lutas inglórias
São histórias que a história
Qualquer dia contará
De obscuros personagens
As passagens, as coragens
São sementes espalhadas nesse chão
De Juvenais e de Raimundos
Tantos Júlios de Santana
Dessa crença num enorme coração
Dos humilhados e ofendidos
Explorados e oprimidos
Que tentaram encontrar a solução
São cruzes, sem nomes, sem corpos, sem datas,
Memória de um tempo onde lutar por seu direito
É um defeito, que mata.
E tantos são os homens por debaixo das manchetes
São braços esquecidos que fizeram os heróis
São forças, são suores que levantam as vedetes
Do teatro de revistas, que é o país de todos nós
São vozes que negaram liberdade concedida
Pois ela é bem mais sangue
Ela é bem mais vida
São vidas que alimentam nosso fogo da esperança
O grito da batalha
Quem espera nunca alcança
Ê ê, quando o Sol nascer
É que eu quero ver quem se lembrará
Ê ê, quando amanhecer
É que eu quero não quero esquecer
Essa legião que se entregou por um novo dia
Ê eu quero é cantar essa mão tão calejada
Que nos deu tanta alegria.
E vamos à luta.