Compartilho, abaixo, texto de uma entrevista de César Benjamin às Organizações Globo sobre o AI 5 e as torturas praticadas pelos agentes do Estado, sob as ordens e/ou conivência dos ditadores que comandavam com mãos de ferro os destinos do País. A entrevista foi realizada na Globo, metida até os ossos no apoio à ditadura e conivente por omissão estratégica com as torturas e mortes. Globo entrevistando um ex-preso político torturado pela ditadura. Como se não tivesse nada com isso. Globo, logo a Globo. Que puta ironia!
Estamos metidos em uma situação complicada. Tortura é crime hediondo. Assassinato, esquartejamento, dar sumiço no corpo, perseguir inimigos internos, são todos crimes igualmente graves praticados por agentes do Estado, igualmente hediondos.
Aparece um candidato à presidência da Relespública e elogia assassinatos, tortura e os torturadores. É eleito. Este candidato, agora presidente eleito, elogia os assassinatos – diz que não foram em número suficiente – queria matar uns 30.000. Elogia a tortura e homenageia torturadores. Ele, o eleito, e sua Klan, compartilham do mesmo ódio pelo pensamento diverso. Uma evangelizadora – notem a carga negativa que acompanha a palavra – é nomeada ministra e propõe mudar a legislação penal para passar a considerar o aborto como crime hediondo, com todas as consequências trágicas que isso trará para a mãe que praticou este ato desesperado. E quer criar a “Bolsa-estupro” para forçar a vítima do estupro a carregar em seu ventre o resultado do humilhante estupro. Castigo duplo: o primeiro estupro e o segundo representado pelo nome do estuprador na certidão de nascimento do filho. Se não aceitar este castigo duplo, outro castigo, também feroz: condenação à prisão, por crime hediondo.
Se temos esses dois cristãos democratas e sua Klan para nos orientar pelos caminhos do bem, quem poderia temer pelo pior, não é mesmo?
Obs: o primeiro assassinato do novo governo que irá assumir já ocorreu. Só não foi devidamente divulgado pela grande mídia de aluguel. Matou o sonho de um país justo e solidário. Matou a paz, semeou o ódio. Liberou os monstros.
Paulo Martins
Leia o texto de César Benjamin:
“Uma pessoa botou a mão no meu ombro e disse: ‘Enquanto estiver com a mão no teu ombro, está tudo bem. Quando eu soltar vai começar’. Fiz perguntas banais, ele tirou a mão do meu ombro e senti a primeira descarga. Cai no chão, e aí começa o processo”.
“O processo tem intervalos e você fica com muita sede. Uma lembrança desse período torturante para mim, até hoje, é que cada vez que eu tomo um copo de água é um ritual. Eu nunca mais esqueci o valor da água, porque eu me senti morrendo de sede”.