Sátira Alemã: A QUEIMA DE LIVROS, Bertolt Brecht

Quando o regime ordenou que fossem queimados publicamente

Os livros que continham saber pernicioso, e em toda parte

Fizeram bois arrastarem carros de livros

Para as pilhas em fogo, um poeta perseguido

Um dos melhores, estudando a lista de livros queimados

Descobriu, horrorizado, que os seus

Haviam sido esquecidos. A cólera o fez correr

Célere até sua mesa, e escrever uma carta aos donos do poder.

Queimem-me! Escreveu com pena veloz. Queimem-me!

Não me façam uma coisa dessas! Não me deixem de lado! Eu não

Relatei sempre a verdade em meus livros? E agora tratam-me

Como um mentiroso! Eu lhes ordeno:

Queimem-me!

Bertolt Brecht

Poemas 1913-1956

Seleção e tradução de Paulo César de Souza

editora 34

Discurso de diplomação de Jair Messias Bolsonaro

Brasília, 10 de dezembro de 2018

Nesta cerimônia de minha diplomação como presidente da República, eu não poderia deixar de reverenciar a memória do coronel do Exército brasileiro, Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex-chefe do DOI-CODI do II Exército, torturador e horror de Dilma Vana Rousseff Linhares.

Que o coronel, a quem eu agora reverencio possa, desde sua morada no infinito, também conhecido entre os cristãos como o inferno, possa guiar meus passos no cumprimento da importante e difícil missão para a qual vocês, meus 57 milhões de eleitores, em pleito democrático onde prevaleceu a verdade divina, me arregimentaram.

Um bom recruta, recrutado para a nobre missão de comandar a vida de 209 milhões de pessoas, nunca poderia fugir à luta. Nem mesmo um mau (seria mal, estou na dúvida?) capitão reformado, condenado por suas ideias em defesa do combate radical ao que é humano, civilizado e fraco, poderia fugir.

Prometo governar com a Bíblia do lado direito do peito e o livro do coronel Ustra, como inspiração maior, também lado direito do peito, pois um capitão que traz Deus acima de tudo e a Pátria em cima de todos não tem, e jamais terá, lado esquerdo.

Permito-me encerrar esta cerimônia com as palavras em latim – ou grego … que seja – que li em um filme sobre a segunda grande guerra mundial e que orientarão as minhas ações destinadas a todos os brasileiros, principalmente aos que não votaram em mim: “Arbeit macht frei”. Heil! Ou melhor, God Save the Queen. Táoquei?.

O QUE CORROMPE, Bertolt Brecht

Nos primeiros meses do domínio nacional-socialista

Um trabalhador de uma pequena localidade na fronteira tcheca

Foi condenado à prisão por distribuir panfletos comunistas.

Como um dos seus cinco filhos havia já morrido de fome

Não agradava ao juiz enviá-lo para a cadeia por muito tempo.

Perguntou-lhe então se ele não estava talvez

Apenas corrompido pela propaganda comunista.

Não sei o que o senhor quer dizer, disse ele, mas meu filho

Foi corrompido pela fome.

Bertolt Brecht

Poemas 1913-1956

Seleção e tradução de Paulo César de Souza

editora 34