Ministério da Agricultura e a farra da liberação dos agrotóxicos

Compartilho texto de André Aroeira. O título é responsabilidade minha. Os agrotóxicos que estão sendo liberados envenenam tudo, até as plantações de produtos orgânicos, pois os venenos são aplicados por pulverização ou em quantidades absurdas, sem controle. Matam as abelhas, contaminam empregados das grandes fazendas, rios, lençóis freáticos, vizinhos, consumidores, população em geral … se duvidar, esses bacanas e ricaços do agro-negócio importam para consumo próprio produtos seguros, como fazia o ex-governador Sérgio Cabral.

Colocar a “menina”-veneno como ministra da Agricultura foi mais um crime entre tantos praticados por esses “ultrajantes psicopatas”, hoje no poder. Visão estreita, de curtíssimo prazo. Os senhores e senhoras do agribusiness ficam com os lucros imediatos e nós ficamos com a vida envenenada. Amanhã, atingidos, eles mudam a fazenda de lugar, para outra região menos envenenada ou para outro país.

Paulo Martins

Qual a primeira coisa que você faz ao chegar no trabalho? Abrir o e-mail? Conferir na agenda as tarefas do dia? Pegar o jornal com um cafezinho?

A rotina da nossa ministra da Agricultura é diferente. A primeira coisa que ela faz é liberar o registro de um agrotóxico. E, de segunda a quinta, libera outro na volta do almoço.

Em 42 dias úteis, foram 74 substâncias “novas” liberadas para uso no Brasil, mais do que anos inteiros acumulados em governos anteriores. Quando estava no congresso fazendo lobby pela liberação geral que agora põe em prática, Tereza Cristina costumava dizer que agrotóxico é o “remédio das plantas”.

No sul e sudeste do país, meio bilhão de abelhas já morreram de remédio em 2019. Uma desolada liderança de apicultores gaúchos, invisível ao lobby do agronegócio que só parece enxergar agro no que envolve roubo de terra, desmatamento e veneno, reclama pra algum veículo da imprensa que “apareceram uns venenos muito bravos. Eles colocam de avião de manhã, e, à tarde, as abelhas já começam a aparecer mortas”.

Que belo remédio é esse que você toma pra dor de cabeça e ele leva junto o coração.

Agrotóxico deveria ser usado de maneira tópica, a partir de infestações detectadas, com bases científicas sólidas, restrições sérias de manuseio, protocolos rígidos de aplicação, liberação mediante longos processos de testes ambientais e de saúde pública.

É assim que se toma remédio, ministra.

Mas no governo atual, essa ultrajante farra de psicopatas, praticamente qualquer substância é aprovada de qualquer jeito, depois embarcada num avião e despejada sobre nossas cabeças. Não há outro diagnóstico possível quando venenos proibidos há décadas em países desenvolvidos começam a ser liberados em meio expediente por órgãos sucateados. Deixo pra vocês imaginarem o tipo de “análise” que está sendo feita.

Um agro pop e tech de verdade daria mais valor às abelhas – que fecundam plantas e agregam por baixo 42 bilhões de reais à produção só no Brasil, de acordo com publicações recentes – do que aos “remédios” que porcamente combatem pragas e destróem tudo que está ao redor. Pragas que só existem no contexto em um modelo produtivo totalmente desequilibrado e irracional.

Mas issaqui é bancada ruralista, mermão. É a barragem de rejeitos da Vale no legislativo, é o buraco negro de onde brotam as pragas que estão se encastelando nos ministérios da agricultura e meio ambiente de Bolsonaro. E o que a bancada de Tereza Cristina gosta mesmo é de mamata, de fazer dinheiro de curto prazo e sem prestar contas, às custas de todo o resto.

E o recém-iniciado governo, que se elegeu com discurso moralizador e “contra a criminalidade”, já começa a cumprir a profecia de ser a maior mamata que madeireiros, garimpeiros, grileiros, monocultores e toda a sorte de picaretas e quadrilhas de achincalhadores irão encontrar desde a redemocratização.

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