Confesso que meu humor oscila diariamente entre pregar a união das nossas forças contra a destruição de tudo o que for civilizado no Brasil, meta declarada por Bosnaro para seu governo, e deixar acontecer para que, pelo exemplo, as pessoas abduzidas pelo Bosnarismo possam acordar por conta própria e reagir.
Entretanto, não tenho vocação para o sadismo, para gozar com o sofrimento alheio. Está claro para mim que é impossível ser feliz em um país-colônia, violento, desumanamente desigual, opressor da diversidade, com seu meio ambiente destruído e inimigo da maioria dos seus cidadãos. Seria impossível viver em meio ao ódio, ao terror e à miséria que a destruição do humano e civilizado, meta do governo Bosnaro, trará para o Brasil.
O objetivo confesso do governo Bosnaro é incitar a desarmonia, é estimular o “cada um por si, que vença o mais rico e mais armado”, é tornar viável a vitória do economicamente mais forte sobre os demais, para criar uma espécie de capitalismo predador, sem freios, um sistema econômico moedor de humanos inadaptados, que eles consideram sub-cidadãos. É este mundo de pobres, desempregados, subempregados, burros-sem-rabos, catadores de latinhas, fuçadores de latas de lixo, urubus de lixões, crakudos, pagadores de dízimo e de taxas de segurança para as milícias que o governo quer segregar em campos de concentração econômicos. Economicamente escravizados, servirão de mão de obra que trabalha até a morte em troca do prato de comida. Acham mais fácil conseguir, assim, a geração de lucros extraordinários e a extração acelerada de mais-valia, que lhes permitirá a formação fácil de fortunas e o giro da roda que cria, por um lado, para poucos, capital, pelo outro, para os presos no sistema, miséria.
Fernando Brito propõe, em seu artigo, que eu compartilho abaixo, a união das nossas forças para barrar, no que for possível, o advento da barbárie e o caos. Como uma necessidade premente, como assunto urgente. Não sei se será possível, mas não nos resta alternativa: temos que seguir lutando. Não há mal que sempre dure.
Paulo Martins
É preciso deter o destruidor da pátria.
POR FERNANDO BRITO · 19/03/2019
Não se reclame que Jair Bolsonaro esconda suas intenções (e o pior, as ações) ditatoriais e sabujas para o nosso país.
Voltou a fazer, ontem, a sugestão para que opositores de esquerda a seu governo “vão para a Venezuela” a qual só não apoia a invasão militar, por causa das “nossas limitações”, ou seja, a Constituição. Ao menos por enquanto, é claro.
Repetiu o que já fizera seu filho e defendeu a construção do famigerado muro de Trump contra latino-americanos, que não consegue nem apoio dentro dos EUA e que se quer implantar na marra.
Disse que a maioria dos potenciais imigrantes para os EUA – e não excluiu os brasileiros – é mal-intencionada e não quer o bem dos norte-americanos.
Fez tudo aquilo que, em outros tempos, acusava-se de fazerem os “comunistas apátridas”, colocando os intereses do país a serviço de uma ideologia transplantada para cá e à frente de seus interesses comerciais.
Exibe, orgulhosamente, sua proximidade com fanáticos de direita, humilhando publicamente seu vice-presidente. Que, aliás, quase foi substituído pelo filho presidendial nos despachos no Planalto.
Bolsonaro trilha um caminho que exige de nós não apenas resistência, mas lucidez.
Ele já não une a direita, o conservadorismo e os contingentes da classe média que uniu ao final de sua campanha.
Nós é que devemos trabalhar por esta unidade e barrar, no que for possível, a missão destrutiva do Brasil que ele próprio assumiu ontem, ao dizer que é preciso “desconstruir muita coisa”.
E a primeira delas, ao que parece, é a dignidade nacional.