“Eu não sou coveiro”

O presidente Bolsonaro, ao ser questinado por um repórter sobre o número de mortes pelo vírus Corona19 no Brasil, respondeu que não sabia, pois, segundo ele, “não sou coveiro”. No caso, tenho que dar razão ao presidente: de acordo com a divisão do trabalho, um dos pilares do capitalismo, quem é o culpado pelas mortes não cava as sepulturas, e vice-versa. Em tempos de normalidade, claro.

O presidente declarou também, no mesmo dia, que não entendia o medo das pessoas se infectarem com o vírus, pois “70% das pessoas vão pegar o vírus, a verdade é essa”.

Segundo dados do Ministério da Saúde referentes ao dia 20.04.20, o Brasil registrou 40.581 casos de infecção pelo vírus Corona, com 2.575 vítimas fatais. Isto representa uma taxa de mortalidade de 6,34%, menor que a média global de 6,86% e maior do que a dos Estados Unidos, cuja média chegou a 5,38%.

Estimando-se a população atual do Brasil em 212 milhões de habitantes, o número de infectados de acordo com a afirmativa presidente Bolsonaro chegará a 148,4 milhões de infectados.

Ora, eu que não creio, rezo para que este absurdo não se realize.

O presidente declarou também que “vai morrer gente, claro. Isso aí faz parte”. Usando-se uma regra de três simples e a premissa do presidente da República, teríamos 9,4 milhões de mortos.

Não dá para extrapolar esses números, é óbvio. À medida que o número de mortos explode, a tendência é a taxa de mortalidade cair drasticamente (pelo menos assim dita a lógica), pois crianças e jovens têm uma propensão muito baixa de virem a óbito.

Situação caótica nos hospitais nas zonas rurais dos EUA

Mesmo que a taxa de mortalidade média caísse para 0,7 % o número de mortos seria catastrófico: em torno de um milhão de vidas.

Ao usar o argumento de que “quase todo mundo vai se contaminar, não tem jeito e, portanto, as pessoas não podem ter medo, têm que voltar a trabalhar”. o presidente Bolsonaro demonstrou descaso com os familiares das pessoas que poderão vir a falecer. E com as próprias pessoas que estarão arriscando as suas vidas.

Mais do mesmo. Nada novo. Novo só o evidente estado de desespero do cidadão despreparado que 28% dos cidadãos do Brasil escolheram para conduzir a arca de Noé.

Paulo Martins

20.04.2020

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