SAGITÁRIO
21 de novembro a 20 de dezembro
Tenho uma grande notícia, Sagitário:
em pleno meio-dia de inverno,
o ranço da rotina te queimando,
festejarás inesperadamente
o descobrimento de algo
que talvez te seja amargo,
mas que abrirá em tua vida
um caminho diferente e seguramente luminoso.
Reconheço que Júpiter
entre abril e maio
te deitará armadilha coloridas.
Mas confio no teu desprendimento.
Se te livras delas
(e o pior é que elas estarão à luz do sol),
experimentará a delícia extrema
de cantar de alegria,
e esse teu canto será repartido.
Convém que consigas (para contemplá-lo
largamente
e guardar no teu peito
a força do seu profundo ensinamento)
o primeiro selo emitido, com todas as cores
do arco-íris humano,
pela República de Guiné-Bissau,
radiosa no poder do seu povo,
que se ergue para o mundo,
no momento em que a aurora,
tanto tempo escondida,
retorna e redime as praças lusitanas.
Vejo para breve
uma perigosa conjugação com Vênus.
Te direi que contra o influxo
traiçoeiro de Vênus
a melhor coisa que existe
ainda é a carícia fabulária
do canto do uyrapurú,
o pássaro pequenino que domina,
com o seu canto,
as florestas altas do meu Amazonas.
Como sei que não é fácil,
trata de encontrar um sucedâneo,
e, se possível, dentro do teu peito.
E basta de tomar tantas notas
e ler todas as letras dos compêndios
para a definição da cultura,
a famosa cultura burguesa ocidental,
que cada dia mais apodrece
como um sapo seco.
Melhor é que trates de fazer música:
organiza a tua gente
e arma o teu conjunto regional
de sabor popular,
para solo de flauta e violão
e, quando for conveniente,
com acompanhamento de rifle.
Em “A Canção do Amor Armado”
Thiago de Mello
Editora Civilização Brasileira
2a. edição – 4/1978