Homenagem à minha mãe, falecida na última sexta-feira e sepultada hoje. Poesia de Ivan Junqueira, sobre a fragilidade da vida.
INDAGAÇÕES
Na manhã fria e nevoenta,
inesperada dádiva neste verão que calcina
até mesmo a áspera pele das pedras,
pergunto-me afinal se valeu a pena
a aposta que fiz no infinito e na beleza,
em Deus e na eternidade, na poesia
que me abandona agora à própria sorte
na extrema fronteira entre a vida e a morte.
E um pássaro pousado em meu ombro
responde: não há vida nem morte, mas apenas
o sonho de alguém que, numa viagem,
julgou estar em busca do eterno,
sem saber que o que nos cabe
(e o que somos, tão fugazes)
é, se tanto, uma escassa chama que arde
e se apaga ao fim da tarde.
Ivan Junqueira