Li na internet notícia publicada no Estadão que “Nova secretária de mulheres é evangélica e contra o aborto até em caso de estupro”. Consta, também, que referida secretária, quando deputada, votou contra a igualdade salarial entre homens e mulheres.
Em relação a esta notícia, um amigo de Facebook e companheiro de luta política, comentou que “o problema central é o machismo e ele não tem relação direta com a genitália de quem ocupa cargos públicos”. Esse amigo completou: “Queremos paridade entre homens e mulheres nos cargos públicos, mas acima de tudo uma concepção emancipatória feminina de poder, patrimônio civilizatório de mulheres e homens que buscam um novo tempo onde a democracia seja uma prática social profunda!!”.
Esta manifestação fez-me lembrar que a luta das mulheres norte-americanas por igualdade e direitos e, em especial, no período de 1840 a 1920, quando as mulheres norte-americanas conseguiram, com a décima nona emenda à constituição, ganhar pleno direito de voto.
Nos EUA, foram 80 anos de luta, com avanços e retrocessos, tornando a vigilância necessária até os dias de hoje. No Brasil, o direito ao voto em nível nacional veio mais tarde, em 1933.
Um dos mais fortes opositores à emancipação das mulheres foi o lobby da indústria de bebidas, que temia que as mulheres pudessem usar o seu voto para proibir a venda de bebidas alcólicas. Além disso, mulheres-bibelô, não-emancipadas, submissas, recatadas e do lar não controlariam seus maridos, que poderiam passar a noite em bares e cabarés consumindo bebidas.
Em 1911, seguindo o que acontecia na Inglaterra, foi fundada a NAOWS – Associação Nacional de Opositores ao Voto da Mulher, tendo como presidente uma mulher, Josephine Dodge, que permaneceu na presidência por seis anos. Nas palavras da presidente Josephine, “a vida de uma mulher comum não lhe permite obter os conhecimentos essenciais a um bom governo … Ela (a mulher) pode ser melhor empregada em outros setores da vida e o direito ao voto não vai ajudá-la a cumprir suas obrigações”.
Voltando ao início do texto: Muitos homens também contribuiram com a causa da emancipação feminina nos EUA e, na contra-mão, um grupo organizado de mulheres atrasou o acesso das mulheres aos seus legítimos direitos.
A escolha de Fátima Pelaes para chefiar a Secretaria de Política para Mulheres representa o atraso, e mais do que isso, o retrocesso na emancipação feminina, tendo em vista suas posições arcaicas sobre temas essenciais à independência e emancipação das mulheres.
O que é mais notável em tudo isto, repetindo o que ocorreu no passado com os movimentos feministas contrários ao acesso das mulheres aos direitos que lhes eram devidos, é que Fátima Pelaes foi uma indicação de parte da bancada das mulheres na Câmara dos Deputados.
Trata-se, sem qualquer surpresa, da parte da bancada feminina que apoia o golpe e dá suporte ao governo usurpador de Michel Temer.
Nos Estados Unidos, após a aprovação da Décima Nona emenda da Constituição, com a extensão do direito de voto às mulheres, a coligação (NAOWS) que lutava contra a aprovação do voto feminino, transformou sua atuação em um movimento político anti-feminista para marcar, de acordo com suas próprias palavras, “oposição à expansão dos programas de bem-estar social, aos esforços femininos pela paz e para fomentar uma cultura política hostil às ativistas do movimento progressista feminino”.
A história se repete. Mulheres atuando contra a emancipação das mulheres é fato antigo, mas nem por isso deixa de ser lamentável.