Trabalhei e estudei nos EUA nos anos 70, durante quase quatro anos. Ao retornar ao Brasil trabalhei por muitos anos em comércio internacional, realizando negociações comerciais, tanto de exportação quanto de importação, sempre em contato com empresas norte-americanas.
Na época, nos anos 70, acompanhei com grande interesse a disputa presidencial entre Jimmy Carter e Ronald Reagan. Reagan, para surpresa de muitos, venceu as eleições com um discurso bélico, em relação ao posicionamento que os EUA queriam projetar para o mundo e neoliberal, nos assuntos econômicos e sociais.
Era tão evidente a estratégia belicista de Reagan que Carter o apelidou de “warmonger”, tentando dar um tom ainda mais pejorativo ao termo. Os dicionários ensinam que “warmonger” diz respeito àquele que advoga, provoca e incita guerras. Nada mais correto. Vimos, com o passar dos anos, que os EUA entraram na rota de resolver seus problemas internacionais com guerras e terrorismo (com drones) e o mundo tornou-se extremamente inseguro.
Voltando aos anos 70. O Irã havia realizado uma revolução que derrubou o Xá Reza Pahlevi, aliado dos norte-americanos. Os revolucionários, além de tomarem o poder, invadiram a embaixada dos Estados Unidos em Teerã e mantiveram os diplomatas norte-americanos como reféns.
Parte considerável da população norte-americana, insuflada pela mídia, apoiava uma “solução” de força, em vez de negociação, para este conflito. O discurso de Reagan em favor de uma solução bélica para os problemas dos Estados Unidos estavam, então, em consonância com importante parcela do eleitorado. A mídia deu o empurrão final e fez de Reagan o presidente da “América neoliberal and great again”.
O discurso de Jimmy Carter, embora eticamente correto e essencialmente verdadeiro, como o tempo provou, não causou o impacto necessário para levá-lo à reeleição. Foi levado em consideração pelos seus eleitores, tinha méritos, mas o eleitorado direitista e republicano se uniu em torno dos principais lemas de campanha de Reagan.
Embora o pano de fundo, o momento histórico, seja diferente, o discurso de Trump, candidato republicano à presidência, lembra o discurso de Reagan. A exemplo de Reagan, Trump une uma maioria silenciosa que, para além das fronteiras partidárias, é xenófoba. A diferença é que Trump parece ter conseguido unir contra si um espectro mais amplo de inimigos, em função de suas manifestas ideias preconceituosas.
Eleições compradas pelo dinheiro e pela mídia, tanto quanto golpes de republiquetas bananeiras, visam dar posse a azarões, como Trump, Collor e Michel Temer. Com as mesmas nefastas consequências para as verdadeiras democracias.
Michel Temer, azarão, nunca seria capaz de ganhar una eleição para presidente da república no voto.
Ocorre com a xenofobia nos EUA o mesmo que ocorre com o golpe político-midiático no Brasil que colocou um grupo de indiciados atuais e futuros no poder: Existe uma importante parcela da sociedade que quer o poder, mesmo estando consciente do retrocesso que suas respectivas posições representa. No caso do Brasil, todos sabem que é golpe, sabem tratar-se de uma farsa e não se importam com isso, desde que este golpe possa transformar, como uma mágica, seu voto derrotado nas urnas em tomada do poder. Esta parcela da população, à Maquiavel, acha que o certo é vencer, sem se importar com os meios para alcançar esta vitória. Os demais, que se posicionam contra o golpe, protestam nas ruas abafados pelo silêncio vergonhoso e conivente da mídia que está atolada até o pescoço no pântano da manipulação para o golpe.