Diante da morte impõe-se silêncio e respeito, por Leandro Karnal

Gosto de muitos comentários e textos do Leandro Karnal. Entretanto, devo reconhecer, às vezes fica evidente – por dever de ofício e interesse em agradar seu público-cliente – sua necessidade de caminhar em cima do muro, equilibrando-se nas palavras. No afã de agradar o maior número possível de leitores/ouvintes, Karnal transborda. Não é o caso do texto abaixo. Tirando uma ou outra frase que talvez mereça discussão, a manifestação de Karnal é necessária, oportuna e na medida certa. Não extrapola, não transborda. Pena que quem merece a carapuça rejeite os textos de Karnal sem os ler. A mensagem chegará aos convertidos, mas não abrirá corações e mentes dos empedernidos, cegos de ódio. Mesmo assim, compartilho. Sou um pessimista com defeito de fabricação.

Paulo Martins

Por Leandro Karnal

“Estive em são Bernardo do Campo para uma palestra no Instituto Mauá. A cidade já tinha alguma movimentação em função do velório de dona Marisa. A divergência política e o contraditório são excelentes para a democracia. Todo choque tem algumas barreiras. Uma é a ética: divergir não implica atacar. Outra, muito importante, é a morte. Nada existe além dela. Extinguem-se as animosidades. Termina o ódio no túmulo. Atacar ou ter felicidade pela morte de um ser humano é uma prova absoluta de que a dor e o ressentimento podem enlouquecer alguém. Se você sente felicidade pela morte de um inimigo, guarde para si. Trazer à tona torna pública sua fraqueza, sua desumanidade. Acima de tudo, mostra que este inimigo tinha razão ao dizer que você era desequilibrado. Contestem, debatam, critiquem: mas enderecem tudo isto a quem possa revidar. Por enquanto temos apenas um homem que perdeu sua companheira, filhos órfãos e netos sem a avó. Entre os vivos, surgem divergências e debates. Diante da morte, impõe-se silêncio e respeito. Nunca deixem de ser, ou ao menos, tentar parecer, um ser humano. Quando você não tiver uma palavra de conforto para quem perdeu a mãe ou a esposa, simplesmente, cale a boca. Sinto-me envergonhado por coisas que li na internet.”

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