Invasão da UFMG pela Federal: fascismo e deboche

Quando o poder perde a noção dos limites que deve respeitar, resolve vingar-se e, além disso, resolve debochar dos nacionais a quem devia, por dever constitucional, proteger, está quase tudo perdido. Resta-nos a denúncia, o protesto, a indignação.

Você corta um verso, eu escrevo outro.

Você me prende vivo, eu escapo morto.

De repente olha eu de novo,

Perturbando a paz, exigindo o troco.

…..

Quando o muro separa, uma ponte une

Se a vingança encara, o remorso pune.

…..

E se a força é tua, ela um dia é nossa”.

Compartilho, a seguir, texto de Luiz Carlos Oliveira e Silva e de Leonardo Avritzer sobre este sombrio momento que vivemos. Compartilho também links para textos e notas com diversos posicionamentos contra a invasão da Universidade federal de Minas Gerais e contra as arbitrariedades praticadas pela Polícia Federal.

Paulo Martins

Texto de Luiz Carlos Oliveira e Silva

DEBOCHE, ESTADO POLICIAL E ANOMIA

1. Venho repetindo aqui que estamos caminhando em direção a uma situação de anomia, de falência múltipla dos órgãos da nossa institucionalidade.

2. No vazio crescente de autoridade política, uma articulação de setores da Polícia Federal com juízes e procuradores ávidos por protagonismo histérico e messiânico tem adotado práticas típicas de um estado policial.

3. Os criminosos incidentes que levaram ao suicídio o reitor da UFSC foram apenas o mais visível exemplo de práticas típicas de um estado policial. Mais visível por ter implicado morte.

4. Agora, não satisfeitos com as práticas típicas de um estado policial, os energúmenos acrescentaram à violência o deboche.

5. Batizaram a operação de invasão da UFMG de “Esperança equilibrista”. Isto porque a música de João Bosco e Aldir Blanc tinha fornecido um dos motes do protesto contra os crimes que o estado policial cometeu contra o reitor da UFSC: “uma dor assim pungente não há de ser inutilmente.”

6. Um verdadeiro deboche! Ao debochar desta maneira do protesto e da dor de todos os que sentiram a morte do prof. Luiz Carlos Cancelier, os energúmenos, cada vez mais à vontade, politizam, deliberadamente, ainda mais a sua ação.

7. Isto tudo tem um sentido muito claro: o estado policial está se apresentando como alternativa à anomia que se aproxima.

8. O que chama mais a atenção no deboche, não é o deboche em si, mas a desenvoltura, o “à vontade”, a ausência de pudor. Tudo isto já é, a um só tempo, sinal de anomia e de um projeto político em curso: a instauração de um estado policial entre nós.

9. A conjuntura que se abriu com o impeachmente, talvez venha a ser uma das mais sangrentas da nossa história.

10. Está chegando a hora de a nossa gente bronzeada mostrar o seu valor…

Nota a respeito das conduções coercitivas realizadas na UFMG
Publicada em quarta-feira, 6 de Dezembro de 2017 – 17:10
A diretoria da ABCP vem manifestar a sua profunda preocupação com os fatos ocorridos hoje, dia 6, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), quando a Polícia Federal conduziu coercitivamente, entre outras pessoas, o professor Jaime Arturo Ramirez e a professora Sandra Goulart Almeida, respectivamente, Reitor e futura Reitora eleita daquela Universidade. Assim como já ocorreu em outras circunstâncias, tais operações têm sido feitas de forma espetacular e midiática. A diretoria da ABCP defende que qualquer suspeita deve ser investigada, mas demanda, em nome do Estado Democrático de Direito, que nenhum processo de investigação, por mais justificável que seja, ocorra em detrimento do principio basilar da presunção de inocência.

Do jornalGGN:

Relato do professor Alexandre Neves, da UFMG.

A Polícia federal invadiu a casa do reitor Jaime Artur Ramirez, que estava saindo do banho, de toalha. Ele pediu alguns minutos para se trocar. Resposta da Policia Federal:

  • Você não tem mais direito à privacidade, não, rapaz.

​É o Brasil de Luis Roberto Barroso e da Lava Jato.

Comissão da Verdade de MG: Operação “Esperança Equilibrista” é pura violência e obscurantismo estatal
Escrito por Miguel do Rosário, Postado em Redação
Confira a íntegra da nota divulgada pela Covemg:

A Comissão da Verdade em Minas Gerais (COVEMG) recebeu com surpresa e indignação a notícia da realização da operação da Polícia Federal, ironicamente, intitulada “Esperança Equilibrista”. Há um evidente ataque de setores conservadores e autoritários contra a Universidade brasileira e tudo o que essas instituições representam para o Brasil.

O ocorrido com o reitor da UFSC, a absurda nota de instituição financeira do exterior a criminalizar o ensino superior público, as inúmeras investidas contra os setores profissionais, artísticos e culturais que lutam contra o arbítrio e pela democracia real são claros sinais do estado de exceção em curso no país.

A construção do Memorial da Anistia em Belo Horizonte é um complexo projeto arquitetônico e de engenharia que envolve a reforma de prédios antigos e a construção de novos equipamentos em terreno com problemas estruturais. Portanto, o devido acompanhamento dessa obra, paralisada a fórceps pelo atual governo federal, não deveria ser objeto de ação policial e sim, de adequações financeiras, técnicas e administrativas.

Os acervos memorialístico e documental que compõem o Memorial, de vital importância para a história, a memória e a justiça em nosso país, demandam uma construção cuidadosa e diversificada. Ao criminalizar uma das maiores Universidades do país abre-se a porta para a criminalização de todo um segmento que não se alinha aos setores autoritários. Nós da Covemg conhecemos bem essa metodologia.

Manifestamos nossa solidariedade aos dirigentes e ex-dirigentes da UFMG constrangidos nessa operação. Afinal, tendo residência fixa e sendo cidadãos do mais alto conceito, a condução coercitiva se transforma numa brutal violência, a evidenciar o obscurantismo que envolve ações da justiça e da polícia nesse momento histórico.

Estendemos à toda a comunidade da UFMG nossa solidariedade e apoio.

Belo Horizonte, 06 de dezembro de 2017.

COMISSAO DA VERDADE EM MINAS GERAIS

Carlos Melgaço Valadares
Emely Vieira Salazar
Jurandir Persichini Cunha
Maria Celina Pinto Albano
Maria Ceres Pimenta Spínola Castro
Paulo Afonso Moreira
Robson Sávio Reis Souza (coord.)

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