18/01/2018
Revisado em 19/01/2018
Acordei hoje pela manhã de um coma profundo que durou quase 3 anos.
Leio os jornais e não acedito. Temer na presidência; Cunha, supostamente preso, comandando o governo central mediante indicação de ministros e de comparsas para inúmeros cargos federais.
Temer está sendo chantageado por todos os conspiradores do golpe, até mesmo por um que diziam há três anos tratar-se de um defunto político. Pois este defunto espera poder enterrar a Justiça trabalhista a partir da indicação da sua filha e de afilhados partidários para cargos no Ministério do Trabalho.
Por incrível ironia do destino o sobrenome da pessoa indicada pelo defunto político para assumir o cargo de Ministra, ou seja, para enterrar o Ministério do Trabalho, é Brasil. E o partido que o defunto político comanda se intitula PTB – Partido Trabalhista Brasileiro.
Para aumentar meu espanto, o defunto, em meio às discussões sobre a impropriedade ou mesmo a ilegalidade de condenada pela Justiça trabalhista assumir o cargo de Ministra o Trabalho declara, do alto de seu posto de comando do Partido Trabalhista, que não sabe para o que servem a Justiça Trabalhista e o Ministério do Trabalho.
Surreal demais para um reles redivivo como eu.
Sempre achei que nossa vocação como país, desde a “descoberta”, era esta mesma: Brasil destruindo o Brasil. Uma espécie de auto-implosão, de suicídio coletivo à Jim Jones.
Havia, antes do acidente que me levou ao coma, uma onda de patos amarelos que eu julgava letal para a democracia. Ao acordar, percebo que a onda, por falta de verbas para vacinação e por falta de capacidade gerencial, transformou-se em uma febre, também letal que, em vez de matar a democracia para matar pessoas, faz o trabalho diretamente, sem etapas intermediárias: mata as pessoas.
Na banca de jornal, leio uma notícia na primeira página de uma mídia publicitária, apresentada em formato de jornal diário, sobre o surto de febre amarela.
Desinformado em função do longo período em estado de letargia leio na banca de jornal, sem entender, na página principal, em letras garrafais:
“FEBRE AMARELA”
“País reduziu em 33% verbas para prevenir epidemias”
“Em 2017, repasses a estados e municípios totalizaram R$ 20 milhões”
Não consegui dar com o sentido da palavra “país”, no início da manchete. Parece deslocada, fora de lugar. Sabedor que a imprensa venal brasileira especializou-se em esconder a verdadeira informação por trás de letras garrafais em jornal de ampla circulação, pensei ser esta a primeira pista para decifrar o título.
Logo fui assaltado por uma dúvida. Assaltado … mais uma indicaçação sobre qual país seria, ao mesmo tempo, vítima deste infame tratamento sobre a área de saúde e seu agente causador.
Seria este tal país a Alemanha, que teria diminuído as verbas para o combate à febre amarela em função da erracadição da doença, ou os Estados Unidos, agora assolado por pragas, como a eleição de Trump, os assassinatos em série e o aumento da desigualdade de renda e de riqueza, que atingiu nível de epidemia, necessitando desviar recursos da saúde para construir o muro da vergonha na fronteira com o México?
Ou seria um outro país, muito mais próximo, a que a enigmática notícia se refere? O país de Temer, Meirelles, Illan, Steinbruch, Reichlo, Aécio, família Marinho e Maluf?
Lento, demorei a perceber que ao usar a palavra “país”, o engenhoso editor do jornal tentou esconder os verdadeiros autores deste crime e colocou todos nós, o país todo, no lugar da equipe econômica e dos golpistas culpados. De acordo com o jornal, todos nós, os 208 milhões de brasileiros que compomos esta entidade chamada “país”, somos os culpados pela redução dos repasses de verbas para prevenir epidemias e cuidar da saúde das pessoas.
E eu pensando que o tal país era vítima e o jornal deixando claro que o país é, na verdade, o criminoso, o causador da tal epidemia.
Não ví nenhuma contestação sobre esta matéria jornalística. Como tenho assistido nos telejornais concorrentes o mesmo comportamento, estou assumindo que a prática de esconder o nome dos verdadeiros culpados pelas tragédias nacionais, ede considerar as vítimas como as verdadeiras culpadas, naturalizou-se e é aceita por todos.
Foi ele. Prendam o país.
Paulo Martins