Nos morros e periferias de todas as cidades brasileiras nunca houve democracia. Sequer o reconhecimento da própria condição humana os seus moradores tiveram.
Democracia no Brasil, gente boa e bronzeada das praias e jardins, sempre foi um pacto restrito entre burguesia subalterna, oligarquias e frações seletas da classe média.
A violência só é percebida quando atinge as zonas nobres, aquelas que, ao contrário dos lugares onde habitam os invisíveis, o dia a dia não é vivido sob fuzis e extermínios diários.
Aí vem o clamor contra a violência.
Parem com isso. O medo é real, mas o discurso é cínico. A insegurança não é combatida com Forças Armadas, que nem treinadas para isso foram. Muito menos com incitamentos fascistas ao ódio.
A danação de todos nós só será enfrentada de fato quando os ” cidadãos de bem” abrirem os ouvidos para a polifonia de gritos que sempre fingiram não escutar.
Quando se derem conta de que a desigualdade social é mãe da violência do tráfico, dos milicianos e de policiais que se alternam nos três papéis.
O mesmo vale para o apreço ao regime democrático: quanto mais cidadania, menores as chances de golpes acontecerem em intervalos tão curtos de tempo. Marielle, e com ela várias outros, sabiam disso.
Pagaram um preço caro e tiveram suas narrativas reescritas pela mídia corporativa. Até quando vamos suportar essa farsa toda? Pior, até quando vamos legitimá-la, prezados cidadãos que moram no espelho de Alice?
Por Gilson Caroni Filho
Via João Lopes