Por Roberto Efrem Filho.
“Eu sou aquele que pode ser torturado”. Acredito que isso precisa ser dito. “Sabe aquele sujeito amarrado, sangrando, posto num saco? Aquele pode ser eu”.
Penso que isso precisa ser repetido. É que nossas afirmações enfáticas de que Bolsonaro é favorável à tortura, à violência política e a regimes autoritários parecem soar distantes demais, abstratas demais.
Ouvi dias desses que hoje somos um país diferente, que coisas assim não aconteceriam mais, são outros os tempos, afinal, e o próprio Bolsonaro já se arrependeu do que disse. Pior.
Nossas denúncias acerca da tortura esbarram, não raramente, em irrelevância.
Ali, diante de nós, há alguém que julga que a tortura não é nada demais. Por isso, os torturáveis precisam de carne, de tato, de proximidade.
O torturável sou eu, o professor de sociologia e advogado de sem-terra; mas o torturável é também a sua irmã estudante universitária que irá ao ato no sábado; é o seu pai, jornalista que resolve investigar “segredos de Estado”; assim como os torturáveis – e torturados! – são os jovens negros pertencentes aos setores mais precarizados da classe trabalhadora, facilmente criminalizáveis e impunemente matáveis.
A tortura precisa ter carne, precisa mesmo ter nome, precisa de uma identidade.
“Eu sou aquele que pode ser torturado”. Sim, eu sou. “E se você apoia um candidato que concorda com a tortura, você está apertando a corta em meu pescoço”.