Do economista David Deccache
Nos últimos dias, explicita ou implicitamente, vários economistas, da ortodoxia à heterodoxia, passaram a assumir os pontos mais óbvios da Teoria Monetária Moderna.
No fim do ano passado, André Lara Resende já havia aceitado a fragilidade da teoria econômica ortodoxa frente ao poder explicativo da MMT. É bom destacar que ele foi um estudioso da teoria ortodoxa por quatro décadas.
Lembro como as pessoas se assustavam quando o pequeno grupo de economistas que defendiam a MMT no Brasil diziam que não havia NENHUMA restrição financeira para países monetariamente soberanos. Causava espanto quando dizíamos que tributos não financiam os gastos públicos e que emissão de títulos não eram empréstimos destinados a financiar o governo.
As pessoas, e aqui incluo os economistas, se espantavam quando nós falávamos que o governo gasta simplesmente criando dinheiro … do nada!
Caso curioso foi quando uma jornalista, analfabeta econômica da Revista Época, zombou do economista José Luis Fevereiro em 2018 durante a campanha eleitoral. O motivo? Fevereiro disse o óbvio: não há hipótese alguma de ocorrer crise fiscal para países que emitem a própria moeda. Algo que André Lara Resende e muitos outros falam com a maior naturalidade o mundo atualmente.
Enfim, a crise e a dor ensinaram , na marra, aos economistas e especialistas no assunto, que o Estado cria dinheiro do nada.
Para alguns a ficha ainda não caiu, mas a pergunta “de onde virá o dinheiro para financiar isso ou aquilo?” é de uma estupidez sem precedentes. Este tipo de pergunta se faz para um pai de família, não para uma nação que emite a própria moeda.
Quando alguém te perguntar de onde virá os bilhões que o Brasil precisa para salvar a vida de milhões de pessoas, responda com outra pergunta: de onde está vindo os trilhões de dólares que os EUA, União Europeia ou a China gastaram para minimizar os impactos da crise? Aumento de receitas tributárias? Empréstimos do setor privado (perceba a falta de lógica desta questão)?